Entrevista com Ket Garbosa, do Literapia

Aos 21 anos, a estudante de Direito Ket Garbosa tem uma relação bastante séria com os livros e a litertura, especialmente, os que se toca os universos da ficção científica, da fantasia e dos clássicos. Completamente apaixonada por \”Flores para Algernon\”, de Daniel Keyes, para ela, que também é booktuber e criadora do Literapia, os livros que a cativam são aqueles que a fazem refletir sobre a vida, a sociedade, o ser humano. Venham conhecê-la através desta entrevista descontraída.

I – Origens e Hábitos de Leitura

SEL – O que pode revelar das suas origens para todos aqueles que não a conhecem?
Ket Garbosa – Creio que, para uma pergunta poética como essa, eu devo responder à altura. Nascer no Brasil não é fácil, desde sempre estamos acostumados com a desigualdade social e com outros fatores que são motivos de indignação. Acredito que isso não seja novidade para ninguém, mas um detalhe muito importante que muitos esquecem quando falam do Brasil é o nosso otimismo. Tem um ditado popular que diz “Se a vida te der limões, faça uma limonada”, então, o que eu posso revelar sobre as minhas origens é que, na verdade, nós fazemos uma bela caipirinha com os limões da vida. O bom humor, a simpatia, a generosidade tornam a vida mais leve no Brasil e, querendo ou não, essas características também nos dão garra para continuar lutando. 

\”Desde muito pequena, os meus pais e avós me incentivaram no mundo da leitura. Eu comecei por gibis da Turma da Mônica, aliás tenho a coleção, até hoje, na minha estante. Depois, quando estava com cerca de 11 anos, passei a ler livros de mistério e fantasia. Eu emprestava muitos livros da escola, era, literalmente, uma ratinha de biblioteca. Lembro também que, na mesma época, eu ganhei um tablet de aniversário e nele tinha alguns livros, como Percy Jackson e “O Menino do Pijama Listrado”. Mas, o meu primeiro livro físico foi “A menina que roubava livros” que ganhei, de presente do meu pai. E, sinceramente, eu sou muito grata à minha família por ter me influenciado a gostar de ler, apesar de que hoje em dia eles dizem “Kethelyn, pára de ler um pouco, faz mal para a sua vista!” — Ket Garbosa

SEL – Na sua família, tem alguém que goste de ler?
Ket Garbosa – Infelizmente não, eu até tento influenciá-los como eles me influenciaram, mas demonstram pouco interesse. Eu acredito que a ausência desse hábito na minha família, e nas demais famílias brasileiras, resulta da falta de incentivo por parte do Estado, pois, o povo brasileiro nunca entendeu que a leitura é uma espécie de lazer. Mas, de todo coração: espero, profundamente, que isso venha a mudar!

SEL – Você se lembra de qual foi o primeiro livro que leu, na íntegra?
Ket Garbosa – Nossa, faz muito tempo! Não me recordo bem, mas acredito que foi “Verônica na Corte do Rei Arthur”. Restou apenas o sentimento bom sobre o livro, não lembro nada da história. 

SEL – Quando é que percebeu que o seu gosto pela leitura era algo sério?
Ket Garbosa – Apenas com a criação do canal, uma vez que, agora, tenho a responsabilidade de ler o livro da forma mais proveitosa possível, além de organizar metas de leitura, leituras coletivas, post’s no Instagram sobre dicas e indicações. Levo tudo com muita seriedade, responsabilidade e, ao mesmo tempo, com leveza.

\”Desde os meus 16 anos eu leio, principalmente, clássicos e ficção científica. Então, estou a cinco anos presa em livros críticos e isso vem me fazendo muito bem, eu consigo sentir meu amadurecimento, argumentar e discutir com mais facilidade em razão da literatura que caminha comigo. Sobre autores, eu sempre estou mudando de opinião, mas atualmente minha escritora favorita é a Charlotte Perkins Gilman, autora de «Herland» e «O Papel de Parede Amarelo»\”. — Ket Garbosa

SEL – Na sua experiência de leitura, já houve algum autor que não conhecia e te arrebatou completamente?
Ket Garbosa – Sim, eu não conhecia o Daniel Keyes, entretanto, um dos livros que eu mais amo é o famigerado \”Flores para Algernon\”.  Eu li e reli e, em ambas as vezes, me adentrei na história de uma forma tão inexplicável! A escrita, a trama, as críticas, tudo é perfeitamente cativante! 

\”Ao meu ver, existe um conjunto de fatores extremamente importantes para cativar o leitor: a história, a escrita, a construção dos personagens. Mas, o que me prende mesmo é a realidade. Isso significa que eu gosto de me sentir na pele dos personagens e, por esse motivo, amo tanto os livros clássicos, eles são atemporais e críticos. Sendo assim, o livro me cativa quando me pego pensando sobre a vida, a sociedade, o ser humano. Então, resumidamente, a característica essencial para mim é o conteúdo crítico realístico.\” — Ket Garbosa

SEL – Como marca as citações que te marcam num livro? Com tirinhas, sublinha a lápis ou anota num caderno?
Ket Garbosa – Adoro marcar livros com “tirinhas”, sublinhando com lápis e marca texto ou, até mesmo, escrevendo na própria folha ou em um bloco de notas. Ao meu ver, isso dá vida ao livro! E o mais bacana de tudo isso, é o momento que empresto o livro a alguém e ele está cheio de marcações, como se a minha personalidade e os meus pensamentos estivessem ali, prontos para serem notados por outra pessoa. 

\”O e-book, embora não tenha algumas características «gostosas» e únicas do livro físico, é muito prático e, ao meu ver, o aumento da produção do mesmo no nosso mundinho globalizado é uma maneira de democratizar a leitura. Ora, é discrepante, a diferença de valores entre o livro virtual e o físico. Obviamente, aqui reiteramos o assunto do acesso à leitura, até porque para ler um e-book é necessário um kindle, celular ou computador, além da internet, claro… mas, acredito que se a pessoa, felizmente, já possui contato com esses aparelhos, o e-book é um facilitador e, por isso, vem sendo produzindo em demasia.\” — Ket Garbosa

II – Escrita

SEL – Já pensou, alguma vez, em ser escritora? Se sim, tem alguma ideias em mente?
Ket Garbosa – Infelizmente não. Mas caso viesse a ser, provavelmente, seria autora de alguma distopia ou colaboraria para a literatura feminista. 

III – Booktube

SEL – Na sua opinião, o que é mais difícil para quem quer iniciar este caminho e se tornar booktuber?
Ket Garbosa – Com certeza: rotina! Mesmo que você não enxergue o Youtube como um trabalho, as pessoas vão te considerar um produtor de conteúdo e, consequentemente, vão exigir uma postura responsável, como ser presente e constante nas redes. Sendo assim, a rotina é algo que está intrínseco na criação de um canal e, por vezes, se torna difícil, até porque existem outras responsabilidades no nosso dia-a-dia. Mas, felizmente, me dou muito bem com isso!

SEL – Sendo uma leitora e booktuber que reside no Brasil, qual é a sua visão sobre a criação de eventos literários no seu país?
Ket Garbosa – Gostaria que tivesse muito mais! Em Londrina, por exemplo, não temos quase nada. Eu mesma participei de um único evento em 2016, chamado Ciranda de Poesia. Mas, os grandes eventos estão concentrados nas grandes metrópoles… torço para que, um dia, o acesso à leitura seja o mesmo em todos os lugares e o Governo dê prioridade á educação, incentivando esse hábito tão necessário na sociedade.

SEL – Qual é a sua opinião em relação às parcerias com autores e/ou editoras?
Ket Garbosa – Acho muito bacana, desde que seja uma ajuda mútua. Tenho algumas parcerias com autores nacionais, aos quais agradeço muito pela oportunidade de ler e resenhar os livros deles. E acredito que uma parceria saudável provém de uma relação saudável, entre ambas as partes, sem cobranças e falsas idealizações. Até então, tive a sorte de receber apenas livros que encheram meu coração de amor e minha cabeça de conhecimento! 

\”O carinho das pessoas, o sonho de estar incentivando a leitura e a chance de conhecer novos livros. Para mim, essas são as principais vantagens do booktube! Já, a única desvantagem é que o produtor de conteúdo que «mostra a cara» está sujeito a comentários maldosos e, às vezes, isso é bem decepcionante, mas nesses momentos, me concentro nas coisas boas e digo, para mim mesma, que não vou desistir!\” — Ket Garbosa

SEL – Como se organiza para produzir os conteúdos para o canal?
Ket Garbosa – Eu sou bem espontânea, não tenho um dia certo para gravar, apenas sento e bora! Às vezes, anoto algumas coisinhas antes, mas prefiro gravar sem roteiro, como se cada pessoa, que está assistindo, estivesse ao meu lado tomando uma xícara de chá e conversando comigo.

SEL – Tem algum ritual antes de começar a gravar?
Ket Garbosa – Apenas bebo muita água antes, pois falo tanto que minha boca fica até desidratada. 

\”Fico um pouco triste quando vejo uma mãozinha negativa, e fico me questionando se tem algo errado no vídeo, o que eu poderia melhorar ou se a pessoa apenas não curtiu. Mas busco focar nos likes e nos comentários maravilhosos!\” — Ket Garbosa

SEL – Como vê o aumento dos canais literários no seu país?
Ket Garbosa – Fico muito feliz! Esse crescimento conquista novas pessoas para o mundo da literatura, e quanto mais leitores habitando a face da Terra, melhor! Também adoro ver a diversidade, eu, por exemplo, gosto de clássicos e scifi, mas existe inúmeros canais que focam em outros gêneros, de modo que tem espaço para todo mundo e público para todos os gostos.

SEL – Para terminar, o que diz o seu “eu literário”, neste momento?
Ket Garbosa – Meu eu literário está marcado pela seguinte frase:

“As pessoas são feitas de nada mais que poeira, e eu não conseguia entender como tratar de toda aquela poeira era melhor que escrever poemas que pessoas lembrariam e repetiriam para si mesmas quando estivessem tristes, doentes e insones.” – Sylvia Plath, \”A Redoma de Vidro\”

Ou seja, meu eu literário diz que a leitura cura, por isso, meu refúgio é o @Literapia.

Foto: Ket Garbosa/Divulgação

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Boas leituras!