“Mrs. Dalloway”: Vida e rupturas

Para compreendermos melhor a importância da autora para as questões abordadas nesta série, é interessante salientar a sua história de vida marcada por altos e baixos que se conectam diretamente com a forma que ela escreve suas obras. Virginia Woolf nasceu em Londres, em Inglaterra, no ano de 1882, e suicidou-se em 1941, aos 59 anos. A vida da autora é composta de muitas perdas e uma autocobrança constante que a acompanhou até mesmo depois de alcançar o sucesso, conforme descreve Ferreira e Ferrari (2017).

O Seu nome de nascimento é Adeline Virginia Stephen e foi a terceira filha de Sir Leslie Stephen, autor renomado da era vitoriana, e Julia Jackson, que também possuía conexões artísticas. Foi educada em casa e teve a tutoria do seu pai em leituras e traduções, além de vir de uma família que já possuía diversas conexões com o mundo literário. A sua infância foi marcada por viagens de verão à Talland House, onde Virginia possuiu, desde cedo, a ideia de cidade e campo, inverno e verão, como afirma Reid (2020).

Conforme explicado acima, é curioso, aliás, salientar como as perdas na família representaram grandes dificuldades emocionais durante toda a vida da autora. Como comentado por Reid (2020), a mãe da autora faleceu quando ela tinha 13 anos e, quando a autora estava a sair de uma depressão, a sua meia-irmã, Stella, faleceu aos 28 anos de idade em 1897. Este foi um evento descrito por Woolf, no seu diário, como impossível de descrever. Em 1904, o seu pai também faleceu e a autora teve um colapso nervoso.

Conforme verificado por Goldman (2006), após o período de depressão severa, Virginia passou a ser membro e, dessa forma, a conectar-se profundamente com o grupo intelectual Bloomsburry. Trata-se inegavelmente de uma nova conexão para a autora, contando com nomes importantes incluindo o seu futuro marido, Leonard Woolf, jornalista político e editor. Assim, reveste-se de particular importância, a convivência da autora com a formação literária e como, a partir disso, criou uma nova concepção de romance que possui múltiplas interpretações de acordo com o tempo.

Virginia e Leonard Woolf desenvolveram a sua própria editora, juntos, onde publicaram autores renomados como os 24 volumes da edição inglesa do pai da psicanálise, Sigmund Freud, como afirma Cordás e Marchetti (2011). Os autores contem ainda que, neste contexto, fica claro que Virginia se manteve, ativamente, no mercado literário, mesmo diante dos episódios maníaco-depressivos psicóticos e de duas tentativas de suicídio.

Virginia era extremamente comprometida em viver de literatura. Além do fato da autora possuir herança da família, a literatura em si deixou-a vários anos sem retorno financeiro, conforme afirma Bell (1992). Mas, em 1941, afirma Alverne (2017):

“Em 1941, enquanto escrevia uma nova versão do romance Entre os atos, sentiu novamente a presença da infausta tristeza e percebeu sua mente tomada pelas vozes aterradoras; estava convencida de que não conseguiria mais evitá-las. Escreveu uma carta de despedida endereçada a seu esposo e a sua irmã, encheu os bolsos de seu casaco com pedras e entrou no Rio Ouse.” — Bell, Alverne, 2017, p. 14-15

Portanto, a autora deixa claro, na citação acima, que o colapso mental estava invadindo-a abertamente e, após escrever as duas cartas, a autora terminou com a sua própria vida. Estas rupturas durante toda a vida da autora estão presentes tanto dentro quanto fora de suas obras e é esse o motivo pelo qual é importante frisar este ponto. Virginia conseguiu transportar parte da sua realidade para o seu lado criativo na escrita, em especial na obra Mrs Dalloway.

Foto: Virginia Woolf por Emil Otto Hoppé

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Sobre a autora:
Nasceu em Londres a 25 de janeiro de 1882, filha de Sir Leslie Stephen, escritor e historiador ilustre da Inglaterra vitoriana. Desde cedo ligada a grupos de intelectuais, Virginia Woolf casou, em 1912, com Leonard Woolf e com ele fundou a editora Hogarth Press, responsável pela revelação de autores como Katherine Mansfield e T. S. Eliot e pela publicação das suas próprias obras. Reconhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo britânico, destacam-se entre os seus trabalhos os romances “Mrs Dalloway” (1925), “Orlando” (1928) e “As Ondas” (1931), assim como o ensaio “Um Quarto que Seja Seu” (1929). Após sucessivas crises depressivas e não suportando o isolamento provocado pelo agravar da Segunda Guerra Mundial, suicida-se a 28 de março de 1941, em Lewes.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf (Livros do Brasil, Wook):
https://www.wook.pt/livro/mrs-dalloway-virginia-woolf/16066983

Leitores residentes no Brasil:
“Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf (Penguin-Companhia, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/mrs-dalloway-1-ed-2017/artigo/3c12d6c4-9c43-4d72-b0aa-c144d85174c5

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Boas leituras!

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