Itamar Vieira Junior: “Torto Arado” e a luta pelos direitos universais no sertão brasileiro

Nascido no estado da Bahia, Itamar Vieira Junior venceu a edição de 2018 do Prémio LeYa e, dessa forma, tornou-se no 10º escritor a ser galardoado com este importantíssimo galardão. Um dos principais objectivos desta iniciativa, iniciada em 2008, é descobrir novos autores de língua portuguesa. Aliás, este é maior prémio para obras inéditas que sejam escritas na língua de Camões, visto que o montante atribuído ao vencedor é de 100 mil euros. Nesse sentido, “Torto Arado” será apresentado na LEYA na Buchholz, em Lisboa, pelas 18h30, no próximo dia 25 de Fevereiro. Á conversa com o escritor, estarão Mirna Queiroz, a directora da Revista Pessoa, e a jornalista Ana Sousa Dias. A entrada é gratuita.

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Fonte LeYa Portugal

Neste momento, o autor baiano, nascido em Salvador, está em Portugal, justamente, para promover o lançamento do romance que arrebatou o mencionado prémio. Além disso, é um dos 140 autores convidados para a 20ª edição do Correntes d\’Escritas, um dos mais respeitados e aclamados eventos literários do nosso país.

Valter Hugo Mãe, Milton Hatoum, Hélia Correia, Afonso Reis Cabral, Gonçalo M. Tavares, Ondjaki, Lídia Jorge, Germano Almeida e João Tordo são, apenas, mais alguns nomes confirmados para esta edição marcante.

A propósito da sua participação neste evento, aquando da sua intervenção, o mote foi definido com base num verso de Sophia de Mello Breyner Andersen onde a consagrada poetisa portuguesa, abordou o tema do “vazio”. A partir desse ponto de partida, Itamar falou, igualmente, do silêncio, da memória e da voz que calou os seus personagens. Um tema que está bem presente no romance, tal como os conflitos sobre a posse das terras, no sertão brasileiro, onde acontece o cenário do livro durante quatro longas décadas.

Depois, salientou que, só num dos últimos anos, foram registados 1640 conflitos, no que diz respeito à posse de terras e que, por essa mesma razão, morreram várias pessoas, sendo que conhecia seis delas. Por isso, garante, a literatura pode ser a expressão de uma questão e que, ainda que não tenha sido o primeiro a falar dos conflitos de terras, sabe que há muitas décadas de separação entre este romance e os que já se escreveram sobre o tema.

\”Vivemos num luto cívico como se fizéssemos um velório da democracia e ‘Torto Arado’ é um manifesto contra esse vazio.\” — Itamar Vieira Junior

Obviamente, a situação política que o Brasil vive não podia ser excluída da conversa, uma vez que, naturalmente, após a eleição de Jair Bolsonaro, este romance ganhou um novo sentido. Afinal, a narrativa das irmãs Bibiana e Belonísia, acima de tudo, aborda direitos universais.

“Nem nos meus piores pesadelos, imaginei o que aconteceu ao Brasil: eleger um candidato de extrema-direita. Se, por um lado, no início do processo de escrita, o meu objectivo era completamente distinto. Hoje, vejo este livro com muito mais carinho pelo que pode representar além da literatura, ou seja, para as populações que nele estão retratadas, pois fala de direitos que são universais e elas não os têm.\” — Itamar Vieira Junior

Numa trama tecida de segredos antigos que têm quase sempre mulheres por protagonistas, e à sombra de desigualdades que se estendem até hoje no Brasil. Até diria mais, ‘Torto Arado’ é um romance polifónico belo e comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessaram o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.

Embora não pense muito nas influências a que recorreu para escrever este seu romance de estreia, confessa que a epígrafe que inicia a obra, e que é da autoria de Raduan Nassar, autor brasileiro que, com apenas 3 livros publicados, venceu a edição de 2016 do Prémio Camões, é uma consequência da importância do legado do autor na literatura brasileira. Acaba, ainda, por mencionar que “\’Lavoura Arcaica\’ é um romance único e muita da sua estética foi inspiradora para o meu livro.”

Influenciado por Guimarães Rosa, Jorge Amado e Rachel de Queiroz, \”Torto Arado\” traz, consigo, a herança dos grandes clássicos e recupera um Brasil, há muito esquecido e desvalorizado, o Brasil rural.

Foto: Itamar Vieira Junior por Raul Spinassé

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Sobre o autor:
Nasceu em Salvador, Bahia, Brasil. É geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, com pesquisa sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro. Publicou a coletânea de contos “A Oração do Carrasco” (2017), finalista do prestigiado Prêmio Jabuti de Literatura. Tem contos traduzidos e publicados em revistas especializadas em França e nos EUA. O seu último trabalho é o romance, “Torto Arado”, galardoado com o Prémio LeYa em 2018.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior (LeYa Portugal, WOOK):
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