#5 – A mistificação das personagens negras nas histórias infantis

Através de uma obra de Monteiro Lobato, um dos principais autores da literatura infantojuvenil brasileira, produzida no século, a Ingrid aborda o tema do racismo e da importância da inclusão deste género da literatura, na educação das crianças, sobretudo, se for usado como uma forma delas poderem respeitar a diversidade que existe no mundo inteiro.

“Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta. – Que não seja boba e venha – disse Narizinho – eu dou uma explicação ao respeitável público… – Respeitável público, tenho a honra de apresentar (…) a Princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então, o encanto quebrar-se-á e ela virará uma linda princesa loura.“ — Monteiro Lobato

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Fonte: Companhia das Letrinhas

O excerto, acima, foi extraído do livro infantil “Reinações de Narizinho”, publicado, pela primeira vez, em 1921, originado do conto “Narizinho arrebitado”, de Monteiro Lobato, um importante escritor, ativista e editor de livros.

A literatura, mais do que informar, espelha práticas quotidianas inseridas, socialmente, construindo reflexões e um retrato ideológico, tanto para quem lê, quanto de quem escreve. A narrativa, o texto, a escrita, tem o poder de descrever sensações, reacções e pensamentos que são a base para formar a consciência de um leitor. Porém, que tipo de imagem, a criança criativa, naturalmente, forma na sua memória com um texto como aquele que foi descrito acima?

Há quem diga que a criança, como um rio na sua nascente, não carrega essa impureza de tom racista. No entanto, é inegável que cada criança busca uma forma de se identificar com os personagens, e esse reconhecimento, ao longo do tempo, fortalece-se através de conceitos estéticos e princípios morais.

A mistificação do personagem negro nas histórias infantis, no intuito de “diluir” a cultura que marca o negro, faz emergir, à superfície, a perda de identidade, enfraquecimento das suas raízes e, consequentemente, o embranquecimento, não somente da história, como o do leitor.

Utilizar o imaginário da criança, fazendo com que se aceite esses parâmetros estereotipados do negro na literatura infantil, sem a devida criticidade, é sacrificar a liberdade de pensamento e, também, recuar na formação enquanto adolescente para a sua vida adulta. Contudo, não se elimine a literatura infantil clássica. Deve-se, em vez disso, inseri-la na educação sociocultural, afim de que cada criança, seja negra, ou não, respeite a diversidade, se reconheça pelo que é, e não por quem seria forçado a ser.

Foto: Francois B. Arthanas/Unsplash

Sobre o autor:
Nasceu em Taubaté, interior de São Paulo, a 18 de abril de 1882. Formou-se em Direito, na Faculdade do Largo São Francisco, mas abandonou a profissão. Foi escritor, jornalista, tradutor, editor e empresário. Além disso, fundou sua própria editora. Monteiro Lobato ublicou dezenas de livros para adultos e crianças. Em 1920, lançou seu primeiro livro infantil, \”A menina do narizinho arrebitado\”, que alcançou imenso sucesso. A partir daí, começaram a nascer as histórias do \”Sítio do Picapau Amarelo\”. Lobato criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando os costumes da roça e as lendas do folclore nacional. Muitas vezes, usava também elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. Escreveu ainda livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se pioneiro na literatura paradidática. Lobato faleceu em São Paulo, em 4 de julho de 1948. É considerado o pai da literatura infantil no Brasil.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes no Brasil:
“As Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato (Edição de Luxo, Companhia das LetrinhasLivraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/reinacoes-de-narizinho-edicao-de-luxo/artigo/0715151e-ae50-4b4d-ae67-63041a133346

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Boas leituras!

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