Entrevista com Aione Simões, do canal Minha Vida Literária

Libriana por nascimento e, por consequência, indecisa, romântica, racional e que não dispensa os seus momentos de silêncio e tranquilidade. Nasceu em São Paulo, mas, no entanto, considera-se mogiana de coração pelos anos vividos em Mogi das Cruzes. Foi a sua avó materna que a ensinou a ler e, antes dos 5 anos, já lia as primeiras palavras. Tanto ela quanto sua mãe, através das histórias que liam para ela, a incentivaram nessa atividade, que, hoje, mais do que um hobbie, é um hábito e uma verdadeira paixão. É a fundadora do Minha Vida Literária e responsável por quase todo o conteúdo programático do blog.

SEL – Como se tornou leitora?
Aione Simões –
Leio desde sempre e desde pequena, então, esse hábito sempre existiu na minha vida e, com o passar do tempo, foi se intensificando e se ajustando às minhas preferências como leitora. Algo que me marcou muito foram os gibis (bandas desenhadas) da “Turma da Mônica”, de Maurício de Souza, e os diversos livros infantis, sobretudo, contos de fadas, na sua maioria, que a minha mãe comprava para mim e para o meu irmão. Ela e a minha avó liam, para mim, antes que eu tivesse aprendido a ler, por isso, tiveram uma grande influência nesse aspecto da minha vida.

SEL – Na sua família, tem alguém que goste de ler?
Aione Simões –
Hoje em dia, sou praticamente a única leitora realmente ativa em casa, mas a minha tia também lê, tanto quanto possível, e a minha mãe já leu bastante no passado.

SEL – Você se lembra de qual foi o primeiro livro que leu, na íntegra?
Aione Simões –
Não (risos). Como leio desde sempre, infelizmente, não tenho memória de qual foi o primeiro livro.

SEL – Quando é que percebeu que o seu gosto pela leitura era algo sério?
Aione Simões –
Logo na pré-adolescência, quando já devorava diversas leituras, eu percebi que nem todos, ao meu redor, liam na mesma intensidade e que esse gosto era uma característica minha. Mas acho que sempre o levei a sério, justamente, por ser algo de que sempre gostei.

\”Os géneros que mais leio são: romances, chick-lits e thrillers, sem dúvida, os meus favoritos. Entre os meus autores favoritos, posso citar alguns como Jane Austen, Sophie Kinsella, Machado de Assis, David Levithan e a Kristin Hannah. Contudo, sei que, ainda assim, deixo muitos nomes incríveis de fora.\” — Aione Simões

SEL – Na sua experiência de leitura, já houve algum autor que não conhecias e te arrebatou completamente?
Aione Simões –
Sempre (risos). Leio, mensalmente, algo de autores que, para mim, são inéditos e muito frequentemente sinto-me arrebatada pelas leituras.

SEL – Como marca as citações que te marcam num livro? Com tirinhas. sublinha a lápis ou anota num caderno?
Aione Simões – Normalmente, faço mais marcações quando leio no Kindle, porque é mais fácil de anotar no leitor digital. Nos livros físicos, eu só marco se gostar muito, uma vez que não gosto de parar a leitura para fazer a marcação. Para isso, costumo usar aqueles post-its próprios para citações.

SEL – Visto que cursou Letras, acha que a sua visão sobre esta arte ficou mais profunda? Tornou-se mais seletiva nas leituras que escolhe?
Aione Simões – Não sei dizer se minha visão se aprofundou mas ela acabou por sofrer um impacto, certamente. Acredito que toda a nova informação muda a nossa maneira de ver o que está ao nosso redor e não seria diferente neste caso. Não acho que eu tenha ficado mais seletiva, até porque continuo lendo os mesmos estilos que lia antes da faculdade; aliás, acho que ,na verdade, eu expandi o meu leque de leituras, dado que passei a procurar outros estilos e autores, além de tentar entender o que leio, de uma outra maneira.

\”Acima de tudo, preciso de me envolver com a história e as personagens. Se eu me conectar com elas, muito provavelmente, eu não vou querer largar a leitura, visto que surge aquele sentimento de \’e agora, o que vai acontecer?\’\” — Aione Simões

SEL – Num mundo cada vez mais globalizado, como vê o aumento de produção de e-books?
Aione Simões – Acredito que os eBooks são um complemento aos livros físicos. Todavia, na minha opinião, eles não os substituirão, porque são produtos diferentes. De qualquer forma, vejo que os eBooks tornaram mais práticas muitas leituras e facilitaram o acesso dos leitores em diversos aspectos.

SEL – O que pensa de prémios literários como o Prémio José Saramago, o Prémio LeYa ou o Prémio Camões, na divulgação da língua portuguesa?
Aione Simões – Num mundo predominado pela produção anglófona, existirem prémios que divulguem a língua portuguesa (como outros idiomas), certamente, permite uma maior distribuição e reconhecimento dela. No caso da língua portuguesa, torna-se ainda mais interessante se pensarmos que ela não é exclusiva de países como Brasil e Portugal, cuja visibilidade mundial é mais notória, diria mesmo que é, igualmente, parte de países africanos, que recebem muito menos atenção e precisam de ser mais reconhecidos.

SEL – Já pensou, alguma vez, em ser escritora? Se sim, tem alguma ideias em mente?
Aione Simões – Não só pensei, como já coloquei em prática (risos). Sou uma autora independente iniciante, com dois trabalhos autopublicados, no formato digital, na Amazon: “Vidas na Noite”, uma antologia que reúne cinco contos de gêneros diversos, ainda que interligados por um mesmo bar, numa única noite; e “Escrito nas Estrelas?”, o meu romance de estreia, que é um chick-lit.

\”Resolvi fazer o blog pouco tempo depois de ter conhecido a blogosfera literária. Quando passei a fazer parte dela, ela já estava em atividade há um tempo, mas eu havia demorado a conhecê-la. Um dia, enquanto procurava a capa de um livro, mais precisamente, “O céu vai ter que esperar”, de Cally Taylor, sem querer, caí num blog que o estava a sortear. Foi nesse momento que conheci e fui me encantando, cada vez mais, por este mundo. Pouco mais de um mês depois, a ideia de criar o meu próprio cantinho brotou, já que passei a desejar ter o meu próprio espaço para divulgar as minhas opiniões, em vez de fazer parte apenas como comentarista nos outros blogs. Então, cerca de dois meses depois de descobrir a blogosfera, o Minha Vida Literária nasceu!\” — Aione Simões

SEL – Para você, qual é a característica essencial que alguém que queira ser blogger deve ter?
Aione Simões –
Dedicação, organização e interesse naquilo que faz. Este é um trabalho que exige, da nossa parte, uma produção constante. Por esse motivo, sem o nosso empenho, nada vai para frente.

SEL – Na sua opinião, o que é mais difícil para quem quer iniciar este caminho?
Aione Simões –
Não se sentir desestimulado. Este é um trabalho que leva algum tempo para dar frutos e a pessoa pode sentir-se desanimada ao ver que não está a receber a quantidade de views e/ou comentários que gostaria, uma vez que esses acabam por ser o medidor daquilo que fazemos.

SEL – Qual é a sua opinião em relação às parcerias com autores e/ou editoras?
Aione Simões –
As parcerias, quando feitas com seriedade, podem ser muito vantajosas para os dois lados (blogger e autores/editoras) e foram muito importantes na minha trajetória como um todo. Porém, é preciso saber reconhecer quando elas acabam por favorecer mais um lado do que outro e, por isso, não podem prevalecer nos casos em que a atividade do blogger se torna uma profissão. Actualmente, eu trabalho com divulgação, o que exigiu um investimento de anos da minha parte, e recebo para isso, então, é muito triste sempre que me deparo com profissionais que acreditam que eu deva divulgá-los, apenas, em troca de produtos, como se essa fosse a minha obrigação e não o meu trabalho. É necessário haver reconhecimento de ambas as partes para que haja uma maior profissionalização do segmento.

\”Os eventos são, claramente, e de forma incessante, a melhor oportunidade para se entrar em contato com quem é do meio. É quando encontramos aqueles que nos acompanham, além de conhecermos novas pessoas e criarmos contatos.\” — Aione Simões

SEL – Para você, quais são as 3 maiores vantagens e as 3 maiores desvantagens de pertencer ao Booktube?
Aione Simões –
Vantagens: Trabalhar com o que gosto; Ter acesso às oportunidades do meio literário, principalmente, aquelas que não teria se fosse uma leitora, somente; Receber o reconhecimento pelo meu trabalho, nomeadamente, em forma de gratidão daqueles que tiveram suas vidas/hábitos literários influenciados por algo que fiz/indiquei. Desvantagens: A necessidade de estar ligada às redes sociais, ininterruptamente, o que significa, muitas vezes, trabalhar, em todo e qualquer horário, afim de ler e responder aos e-mails recebidos; Precisar de produzir conteúdos novos, de forma quase que incessante, já que é um trabalho que perde interacção e feedback quando é pausado; Assumir tarefas e funções múltiplas, quando não é possível arcar com uma equipa de apoio.

SEL – Tem algum ritual antes de começar a gravar?
Aione Simões –
Arrumar o ambiente, preparar a câmera e arranjar-me (risos).

\”Eu determino, previamente, os vídeos que pretendo gravar, ao longo do mês, e crio um cronograma. A partir daí, organizo-me para tirar um dia na semana para gravá-los e editá-los. Se for necessário, construo uma lista com os tópicos que pretendo abordar em cada vídeo, mas não costumo fazer roteiros.\” — Aione Simões

SEL – Como lida com o feedback negativo nos seus vídeos?
Aione Simões –
Procuro perceber se o feedback é construtivo ou apenas maldoso. Se for construtivo, por pior que eu me sinta ao lê-lo, procuro ver de que maneiras ele me pode ajudar a melhorar. Se for maldoso, depende do nível. Comentários ofensivos são excluídos e a pessoa é impedida de comentar novamente. Já os maldosos, procuro responder como os demais, privilegiando toda a minha educação, para que possa exercer, não só, os meus direitos de resposta e defesa, como também, fazer com que a pessoa perceba a sua própria atitude.

SEL – Como vê o aumento dos canais literários no seu país?
Aione Simões –
É sempre positivo. São mais pessoas a fazer com que este segmento se torne mais visível, incentivando mais a leitura, influenciando mais vidas. Sempre serei da opinião de que existe espaço para todos.

\”A relação que tenho com as editoras com que mantenho contato é bastante saudável, respeitosa e de benefícios mútuos. Vejo que essa relação passa a ser prejudicial quando a editora não entende o trabalho do produtor de conteúdo como um trabalho e/ou quando o produtor não tem seriedade no que faz, e está interessado, apenas, na recepção dos produtos.\” — Aione Simões

SEL – O que acha do estado atual da literatura brasileira?
Aione Simões –
Por estar fechada nesse meio e em contato direto com os leitores, talvez, a minha percepção não é a de que o Brasil é um país que não lê, como os dados, frequentemente, apontam. Contudo, sei que vivo em uma espécie de bolha e que a realidade pode ser bem diferente. Porém, de modo geral, sinto que as pessoas têm lido mais e passado a interessar-se mais pelas leituras, embora ainda haja muito a investir e crescer nesse sentido.

Deixo, abaixo, os links para as redes sociais da Aione:
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O que acharam da entrevista? Gostariam que o Sonhando Entre Linhas entrevistasse outro Booktuber?
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Foto: Aione Simões/Instagram

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Boas leituras!

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