Completa-se, hoje, a primeira década após a morte de José Saramago

Hoje assinala-se a primeira década após a morte de José Saramago, um dos gandes mestres da língua portuguesa do século xx, a nível mundial. Um escritor que deambulou por vários géneros literários, desde romances, contos, diários, crónicas e teatro e que, sem dúvida, deixou uma marca indelével na literaura de língua portuguesa, não só pela maestria com que abordava diversos temas nas suas obras mas, também, pelo estilo de escrita que implementou. Dos cerca de 40 títulos publicados, saliento obras como \”Memorial do Convento\”, \”As Intermitências da Morte\”, \”Levantado do Chão\”, \”Ensaio sobre a Cegueira\”, \”O Ano da Morte de Ricardo Reis\” e \”O Evangelho Segundo Jesus Cristo\”, entre muitas outras.

Abaixo, 7 autores portugueses revelam e explicam quais são os seus livros favoritos do autor:

1. Dulce Maria Cardoso
“São três os que prefiro, por razões emocionais, o que não quer dizer que sejam melhores do que os outros: \’Todos os Nomes\’ [1997], \’Memorial do Convento\’ [1982] e \’O Ano da Morte de Ricardo Reis\’ [1984]. O primeiro porque lida com a banalidade, que é um assunto que me interessa muito. Aquele homem vulgar e aquela vida mais ou menos banal surgem num livro muito bem resolvido e parco na matéria literária que usa. O segundo interessa-me pelas razões opostas, por ser tão exuberante. Li-o muito cedo, quando foi publicado, e lembro-me de ter ficado avassalada. Não é só o convento de que fala, é o romance que é monumental. O terceiro, pela ideia. Saramago tem sempre ideias boas e parte de perguntas. Neste caso: ‘E se um heterónimo de Pessoa voltasse?’. Li vários outros livros de Saramago, é um autor que se lê com prazer.”

2.Nuno Júdice
“Escolho \’As Intermitências da Morte\’ [2005], um livro em que Saramago pega no mito do desejo de imortalidade e o subverte. Mostra que a imortalidade pode ter feitos muito negativos. Toda a primeira parte do livro anda à volta das consequências que uma sociedade sofreria se ninguém morresse. Passa dessa dimensão coletiva para uma narrativa fantástica em que há um músico, a morte e um cão. É a vontade de seduzir a morte que leva esse músico a evitar que ela exerça o seu poder. A morte apaixona-se por ele. E há a salvação do personagem. Julgo que é um livro com essa dupla dimensão, que se encontra em muitas outras obras de Saramago: pegar num tema relacionado com a humanidade, com os grandes problemas que percorrem o ser humano, e passar para o plano de uma narrativa mais tradicional.”

3. Mário de Carvalho
“A leitura de \’Levantado do Chão\’ [1980] foi para mim um choque e uma surpresa. Um choque porque me fascinou a prosa magnífica, renovada, pessoalíssima, diferente da do Saramago que eu conhecia até então. Uma surpresa porque Saramago era já um autor com alguma idade, numa carreira que parecia estar nos seus últimos termos, e que nos surgiu, de repente, com um romance sentido, original, como se fosse — e veio de facto a ser — o fulgurante início de uma carreira. Raramente a gente do Alentejo e a sua luta pela dignidade e pelo pão foi retratada tão de dentro, com tanta empatia e verdade que o apuro artístico excelentemente reforçou.”

4. Clara Ferreira Alves
“Considero o \’Memorial do Convento\’ um dos mais importantes, mas aquele de que gosto mais é \’O Ano da Morte de Ricardo Reis\’. É um romance circular, muito bem construído, marca o momento em que Saramago passa para os grandes temas. Todos os escritores começam por personagens em particular e depois passam para a humanidade. Os pequenos escritores não conseguem essa transição, só está ao alcance dos grandes. Neste livro, Ricardo Reis é observador do espetáculo do mundo, mas não é passivo intelectualmente, e isso define o Saramago. Vem-lhe do passado como militante comunista, mas não só daí. Saramago era um ativista mental e vai dotar Ricardo Reis dessas mesmas características, aliás muito bem. A retórica e as efebulações do heterónimo funcionam muito bem, o tecnicismo desta escrita é extraordinariamente difícil, mas a narrativa está muito bem montada. Este Ricardo Reis preocupa-se com o estado do mundo e quer contribuir para o emendar. Claro que por detrás daquilo há o povo e a atitude não de reforma mas de revolução. Como sempre, há um traço autobiográfico.”

5. José Luís Peixoto
“Há várias escolhas possíveis e se falássemos noutro momento provavelmente faria outra. Ao longo do tempo, tem mudado muito a relação que tenho com a obra do Saramago. Neste momento, falo de um livro que me tocou muito num certo momento: \’Levantado do Chão\’. Extremamente bem escrito, apresenta uma riqueza no trabalho da língua e ao mesmo tempo descreve um mundo muito português que deve ser conhecido e é importante que fique fixado pela literatura. É um mundo que me diz muito, relacionado com as minhas origens. Independentemente da época a que o livro se reporta, podemos encontrar ali paralelismos com o que é hoje a realidade do Alentejo. Não tenho a ousadia de dizer que é o livro mais importante do Saramago, mas foi aquele que anunciou o autor em potência que ali estava.”

6. Alice Vieira
“O grande livro do Saramago, para mim, é \’O Ano da Morte de Ricardo Reis\’. Conheci bem o Bairro Alto e posso dizer que o livro dele, na descrição das deambulações da personagem, cheira às ruas do Bairro Alto. Adorei o livro, foi o melhor que ele escreveu e se só tivesse escrito este merecia o Nobel por isso. Escolho um outro título, da fase final, em que o Saramago consegue um tom alegre, coisa que ele não era: \’Todos os Nomes\’. Um livro pequenino, que se lê muito bem, bastante diferente do estilo habitual dele. Escrever numa idade avançada um livro com aquela alegria e suavidade é de facto fora do comum.”

7. Mário Zambujal
“Gostei muito de \’A Jangada de Pedra\’ [1986]. Penso que é um livro de que pouco se fala. Parte de uma ideia importante, alimenta a imaginação, torna visível o que descreve. No Saramago o que há de invulgar e inédito é a forma de escrever e o pensamento. \’A Jangada de Pedra\’ é um bom exemplo disso. Já agora: também gostei muito do \’Memorial do Convento\’ [1982] e do \’Ensaio sobre a Cegueira\’ [1995]. Normalmente usa-se o termo ‘o conjunto da obra’ para falar de um autor que não tem nenhum livro que se destaque, mas neste caso uso o lugar-comum de outra forma: se há autor em que podemos dizer que o conjunto da obra é grandioso, é o do Saramago.”

Foto: José Saramago por Nacho Doce

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Sobre o autor:
Nasceu. a 16 de Novembro de 1922. na aldeia de Azinhaga. Devido a dificuldades económicas, José Saramago foi obrigado a interromper os estudos secundários, tendo, a partir desse momento, exercido diversas atividades profissionais: serralheiro mecânico, desenhista, funcionário público, editor, jornalista, entre outras. O seu primeiro livro foi publicado em 1947. No entanto, só em 1976, é que passou a viver, exclusivamente, da literatura, primeiramente, como tradutor, depois, como autor. Romancista, dramaturgo, cronista e poeta, em 1998, tornou-se o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel de Literatura.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Todos os Nomes”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/todos-os-nomes-jose-saramago/16392341
“Memorial do Convento”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/memorial-do-convento-jose-saramago/15747444
“O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/o-ano-da-morte-de-ricardo-reis-jose-saramago/18493509
“As Intermitências da Morte”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/as-intermitencias-da-morte-jose-saramago/15723884
“Levantado do Chão”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/levantado-do-chao-jose-saramago/15840288
“A Jangada de Pedra”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/a-jangada-de-pedra-jose-saramago/16393940
“Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago (Porto Editora, WOOK):
https://www.wook.pt/…/ensaio-sobre-a-cegueira-jose…/15825486

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Boas leituras!

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