Faleceu bell hooks, uma das vozes mais importantes e influentes do feminismo negro nos EUA

Ontem, Gloria Jean Watkins, conhecida pelo pseudónimo de bell hooks em homenagem à sua bisavó Bell Blair Hooks​, que tem mais de 30 livros publicados traduzidos para 15 línguas, tendo começado a ser recentemente editada em Portugal pela Orfeu Negro, faleceu devido a insuficiência renal aos 69 anos de idade.

A carismática escritora, poeta, intelectual e activista afro-americana a quem se deve o seminal \”Não serei eu mulher? – As mulheres negras e o feminismo\”, deixou de estar entre nós na última quarta-feira, na sua casa em Berea, no estado do Kentucky, segundo o que foi noticiado pelo Lexington Herald Leader. Ao jornal local, a sua sobrinha, Ebony Motley, enviou um comunicado de imprensa explicando que a autora estava doente e faleceu rodeada de amigos e familiares.

Ainda antes dos seus 30 anos, publicou, em 1981, \”Não serei eu mulher? – As mulheres negras e o feminismo\”. Em Portugal, o livro teve uma primeira edição em 2014, pela Plataforma Gueto e foi reeditado em 2019 pela Antígona.

“Uma crítica retrospectiva aos movimentos feminista e negro desde o final do século XIX até às décadas de 1970 e uma análise reveladora do processo de construção do feminismo negro norte-americano. Debruçando-se sobre momentos chave da história desses movimentos, mapeando as convergências e contradições entre si, hooks tece um ângulo de análise e abordagem teórica que é uma referência do feminismo negro e das teorias da interseccionalidade, A invisibilidade da mulher negra — entendida como silenciamento, noutros casos distorção estereotipada — é outra questão central na obra de hooks.​”

Cristina Roldão, Ípsilon – Público

Além do livro já mencionado, outro título disponível nas livrarias portuguesas é \”Teoria Feminista – Da Margem ao Centro\”. 

\”Simplificando, o feminismo é um movimento para acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão. Esta foi uma definição de feminismo que ofereci em \’Teoria Feminista – Da Margem ao Centro\’, há mais de dez anos. Na época, tive esperança de que se tornasse uma definição comum e de que todos viriam a usá-la. Gostei dessa definição porque não implicava que os homens fossem o inimigo. Ao nomear o sexismo como o problema, ia directamente ao cerne da questão. Pragmaticamente, é uma definição que implica que o problema é o pensamento e a acção sexistas, quer aqueles que o perpetuam sejam mulheres ou homens, crianças ou adultos.\”

Bell Hooks

O seu nome foi inscrito no Kentucky Writers Hall of Fame, em 2018, e na biografia que disponibilizam da escritora, que nasceu a 25 de Setembro de 1952 em Hopkinsville, no Kentucky, ela foi criada num bairro pobre de Christian County.

Em termos familiares, bell hooks tinha cinco irmãs e um irmão. O pai, Veodis Watkins, era vigilante e a mãe, Rosa Bell Oldham Watkins, trabalhava como empregada doméstica em casas de famílias brancas.

hooks começou a estudar numa época em que nos Estados Unidos havia segregação nas escolas públicas e em que os negros e os brancos não tinham direitos iguais, sendo que a prática da segregação nas escolas públicas só foi considerada inconstitucional em 1954. As suas professoras eram, na maioria, mulheres negras solteiras e, aos 10 anos, já escrevia e recitava poemas.

Depois do liceu, ganhou uma bolsa de estudo para a Universidade de Stanford, na Califórnia. Foi aí que começou a escrever \”Não Serei eu mulher? – As mulheres negras e o feminismo, que a revista especializada do meio editorial Publishers Weekly considerou, no ano de 1992, ser um dos 20 livros mais influentes escritos por mulheres nas últimas duas décadas.

Em 1973, licenciou-se em Língua Inglesa em Stanford; fez um mestrado na Universidade de Wisconsin – Madison em 1976, e doutorou-se em Literatura na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, com uma dissertação sobre a escritora norte-americana Toni Morrison em 1983​. O seu primeiro livro, \”And There We Wept\”, foi publicado em 1978 e reunia poemas.

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Sobre a autora:
Gloria Jean Watkins, conhecida pelo pseudónimo de Bell Hooks, é uma autora norte-americana, feminista e ativista social. A sua extensa obra, que conta com mais de trinta títulos publicados e incide, essencialmente, sobre a interseccionalidade da raça, da classe social e do género, e nos modos como estas categorias produzem sistemas de opressão e dominação reforçando a estrutura capitalista patriarcal. “Não Serei Eu Mulher? – As Mulheres Negras e o Feminismo” foi escrito durante a licenciatura da autora. No entanto, só foi publicado em 1981. é, desde então, louvado como uma reflexão pioneira e um clássico obrigatório da teoria feminista. Atualmente, leciona no Berea College e vive no estado de Kentucky.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
\”Não Serei Eu Mulher? – As mulheres negras e o feminismo\”, de Bell Hooks (Orfeu Negro, Wook):
https://www.wook.pt/livro/nao-serei-eu-mulher-bell-hooks/22234431
“Teoria Feminista”, de Bell Hooks (Orfeu Negro, Wook):
https://www.wook.pt/livro/teoria-feminista-bell-hooks/24148638

Leitores residentes no Brasil:
\”E eu não sou uma mulher?: Mulheres negras e feminismo”, de Bell Hooks (Rosa dos Tempos, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/eu-nao-sou-uma-mulher-mulheres-negras-e-feminismo-1-ed-2019/artigo/d8989a82-2c88-43ae-93a0-e854fdd1bb41
“Teoria Feminista”, de Bell Hooks (Editora Perspectiva, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/teoria-feminista-da-margem-ao-centro/artigo/ed8d3bb5-5f86-4f31-af39-930751afb5f5
\”Olhares Negros: Raça e Representação\”, de Bell Hooks (Editora Elefante, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/olhares-negros-raca-e-representacao-1-ed-2019/artigo/0d4d5195-dea6-46bd-8d7f-1d41c265cbed
\”O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras\”, de Bell Hooks (Rosa dos Tempos, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/o-feminismo-e-para-todo-mundo-politicas-arrebatadoras-1-ed-2018/artigo/33b0c338-f2bc-4f3f-baba-4ea424f897ea

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Boas leituras!