Timor-Leste recebe o seu primeiro Prémio Oceanos, em 2021, com Luís Cardoso, autor de \”O Plantador de Abóboras\”

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Foto: Luís Cardoso por Daniel Rocha

Num anúncio realizado, de forma virtual, coube ao escritor Itamar Vieira Junior divulgar que, pela primeira vez, houve um autor timorense, neste caso, Luís Cardoso, autor do romance \”O Plantador de Abóboras\” (ed. Abysmo Editora) a vencer a edição de 2021 do Prémio Oceanos.

Entre oito romances, um livro de contos e outro de poemas, assinados por autores do Brasil, de Moçambique, Portugal e Timor-Leste, o segundo lugar foi para \”O ausente\”, do brasileiro Edimilson de Almeida Pereira e o terceiro lugar foi para o português Gonçalo M. Tavares com \”O osso do meio\”.

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Fonte: Abysmo Editora

“É um romance que nos lembra que a língua portuguesa permanece viva e ganhou densidade e profundidade em cada fracção de terra onde é falada. É um romance que nos faz reflectir também que a história de uma personagem nunca é solitária – é uma história que carrega consigo a história de sua comunidade, de seu povo e, neste caso, a história de um país, o Timor-Leste.”

Itamar Vieira Junior, autor de \”Torto Arado\”

“Um romance que deixa muitas impressões nos seus leitores”, disse o escritor Itamar Vieira Junior ao apresentar a vitória de \”O plantador de abóboras\” — uma delas é sobre “o poder da linguagem”.

Numa mensagem gravada em vídeo, Luís Cardoso explicou a história do seu romance, a sua origem e a sua relação com a história do seu país, os seus colonizadores e governantes — e com a miragem da riqueza com o petróleo que jaz sob o Mar de Timor. E rematou com uma promessa:

“Não plantaremos só abóboras. Plantaremos tudo o que pudermos plantar. Por favor, voltemos a plantar tudo aquilo que puder dar sustentação ao nosso país.”

Luís Cardoso, autor de \”O Plantador de Abóboras\”

O escritor, nascido em 1958, tem em \”O Plantador de Abóboras\” o seu sétimo romance e nele uma mulher que durante anos esperou pelo noivo acaba por contar a história do seu país. Descrito pelo crítico do Público José Riço Direitinho como “uma alegoria poética, em jeito de monólogo, sobre a História de Timor-Leste no último século”, o romance agora premiado faz parte de um corpo de obra que é um incentivo. “Timor não tem tradição no romance”, declarara Cardoso ao Ípsilon em Abril.

“Eu quis começar a literatura timorense, o género do romance, também um pouco como incentivo para que outros tentem escrever melhor do que eu.”

Luís Cardoso, autor de \”O Plantador de Abóboras\”

No que diz respeito à obra \”O Ausente\”, do brasileiro Edimilson de Almeida Pereira, faz parte da trilogia \”Náusea\” e passa-se na vida rural brasileira (\”Um corpo à deriva\”, da mesma trilogia, foi semifinalista do Oceanos).

“Um livro que rompe as fronteiras entre prosa e poesia, um exímio trabalho com a linguagem e com as inúmeras possibilidades de subvertê-la. Construído como um fluxo, em que nada está determinado – nem a própria língua nem o nome da personagem –, \”O ausente\” é um livro sobre liberdade, elemento que atravessa a construção da obra para recriar o universo rural, intimista e místico onde é ambientada a narrativa.”

Júri do Prémio Oceanos

Por último mas não menos importante, o único prémio para Portugal foi para o romance \”O Osso do Meio\” (Relógio D\’Água), de Gonçalo M. Tavares (vencedor do Oceanos em 2007 com \”Jerusalém\” e em 2011 com \”Uma Viagem à Índia\”), uma novela que decorre no pós-guerra. O júri destaca como o autor “retoma neste livro a perspectiva da violência – da escrita e do tema – e concebe um texto duro, de muita contenção.\”

\”É um romance que, a partir da margem do terror, coloca o leitor em uma posição de fragilidade, mostrando um lado divergente daquilo que somos enquanto humanos, algo que receamos tornar-nos.”

Júri do Prémio Oceanos

O anúncio desta quarta-feira foi presidido por Selma Caetano, coordenadora-geral do prémio Oceanos, que agradeceu a presença de “todos, todas e todes” no evento digital, bem como por Claudiney Ferreira, gerente do núcleo de Audiovisual e Literatura da fundação Itaú Cultural, que destacou que este “foi o ano recorde de países participantes” — concorreram à edição 2021 1835 obras publicadas em dez países. A equipa de apresentadores deste ano foi ainda composta por Matilde Santos, curadora da Biblioteca Nacional de Cabo Verde, Manuel da Costa Pinto e Isabel Lucas (colaboradora do Público), jornalistas e críticos literários.

Em termos monetários, os prémios têm um valor conjunto de 250 mil reais (40,5 mil euros): 120 mil reais (19,5 mil euros) para o primeiro prémio, 80 mil reais (13 mil euros) para o segundo e 50 mil reais (8 mil euros) para o terceiro.

A composição do júri que avaliou os finalistas foi formada por Ana Paula Tavares (Angola), Itamar Vieira Junior (vencedor do Oceanos em 2020), Julián Fuks (vencedor em 2016), Maria Esther Maciel e Veronica Stigger (Brasil) e António Guerreiro e Golgona Anghel (Portugal).

Eram ainda finalistas \”Inferno\”, do poeta português Pedro Eiras e o único livro de poesia da lista, \”O Mapeador de Ausências\”, do moçambicano Mia Couto, e os brasileiros \”A tensão superficial do tempo\”, de Cristovão Tezza, \”Fé no inferno\”, de Santiago Nazarian, \”Maria Altamira\”, de Maria José Silveira, \”O Avesso da Pele\”, de Jeferson Tenório e os contos \”Pessoas promíscuas de águas e pedras\”, de Thais Lancman.

Os vencedores mais recentes foram Itamar Vieira Junior, com \”Torto Arado\” em 2020, e Djaimilia Pereira de Almeida com \”Luanda, Lisboa, Paraíso\” em 2019.

O Oceanos tem o patrocínio do Banco Itaú, do Instituto Cultural Vale e da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) de Portugal e conta com o apoio do Itaú Cultural e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, bem como com o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP.

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https://www.wook.pt/?a_aid=595f789373c37

Sobre o autor:
Luís Cardoso nasceu em Kailako, uma vila no interior de Timor que aparece por diversas vezes referenciada nos seus romances. É filho de um enfermeiro que prestou serviço em várias localidades de Timor, razão pela qual conhece e fala diversos idiomas timorenses. Estudou nos colégios missionários de Soibada e de Fuiloro e, posteriormente, no seminário dos jesuítas em Dare e no Liceu Dr. Francisco Machado em Díli. Licenciou-se em Silvicultura no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. Desempenhou as funções de Representante do Conselho Nacional da Resistência Maubere em Portugal. É autor dos romances: \”Crónica de uma Travessia\” (1997), \”Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo\” (2002), \”A Última Morte do Coronel Santiago\” (2003), \”Requiem para o Navegador Solitário\” (2007) e \”O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação\” (Sextante Editora, 2013).

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“O Plantador de Abóboras”, de Luís Cardoso (Abysmo Editora, Wook):
https://www.wook.pt/livro/o-plantador-de-aboboras-luis-cardoso/24554997
“O osso do meio”, de Gonçalo M. Tavares (Relógio D\’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/o-osso-do-meio-goncalo-m-tavares/24465599

Leitores residentes no Brasil:
\”O ausente\”, de Edimilson de Almeida Pereira (Relicário Edições, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/o-ausente-1-ed-2020/artigo/0d3ee6ea-991f-4040-bc25-0ba511671ec1

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Boas leituras!

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