#5 – Não traduzimos só palavras

Desengane-se quem pensa que os tradutores só traduzem palavras. Neste quinto texto sobre tradução, Ana Beatriz Freitas faz-nos refletir sobre os conhecimentos que são necessários para que o tradutor possa traduzir não só o manuscrito mas, também, adaptá-lo à cultura e ao idioma que vai o vai receber.

Há varias teorias sobre como uma boa tradução deveria ser, as mais tradicionais defendem a ideia de tradução literal que, caros leitores, a maioria de nós sabe que é falha. Para um tradutor ser bem sucedido, antes de tudo, ele precisa dominar muito bem as línguas com as quais ele trabalha. Conhecer a sua estrutura, as suas marcas de uso e a sua história são coisas tão essenciais como conhecer os seus aspectos socioculturais.

A tradução interlingual – que seria a “reformulação” de uma mensagem num idioma diferente daquele em que foi concebida – é a que mais conhecemos, mas e quanto à tradução intersemiótica? Já ouviu falar dela? Nós praticamo-la a tempo inteiro. Trata-se de quando nós interpretamos gestos, atos, simbologias e expressões, mesmo quando não são acompanhados de palavras.

É por conta desse tipo de tradução que podemos distinguir “triste” de “alegre”, “sim” de “não”, “olá” de “tchau”, por exemplo. Simples gestos como sorrir, acenar ou movimentar a cabeça trazem, consigo, uma gama enorme de significados que nós traduzimos e interpretamos. Sendo assim, se lermos num livro, “nos encontramos e apertamos as mãos”, então, podemos interpretar a passagem como a descrição do ato de cumprimentar.

Para nós, é muito normal, mas, para um tradutor, perceber e ter conhecimento desse tema é muito importante, visto que o que é comum e óbvio, no contexto de uma língua, pode ser estranho ou ter um significado contrário noutra.  O simples gesto de apertar as mãos ou bater palmas numa determinada cultura pode ser completamente normal e compreensível. No entanto, noutra pode não ser, uma vez que essa é uma questão cultural que deve ser levada em conta.

Por essa razão, podemos afirmar que estudar a questão cultural de uma língua é tão importante quanto estudar a sua estrutura. Quando o autor escreve um livro, ele não pensa em como o texto vai ficar fora do contexto da sua língua, dado que ele escreve de acordo com sua própria experiência e com os recursos que ele possui. Assim sendo, o tradutor deve estar preparado para traduzir tal obra, reconhecendo de onde essa obra veio e, principalmente, para onde ela vai, e isso só é possível se o profissional da tradução tiver um bom conhecimento estrutural e cultural das duas línguas.

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Boas leituras!

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