Ainda que se tenha tornado um autor aos 60 anos, em 1996, o que podemos considerar um começo de carreira tardio, \”O Silêncio da Chuva\”, o seu romance de estreia, deu-lhe o Prêmio Jabuti, logo no ano seguinte, na categoria de Melhor Romance. Além disso, através da criação do detetive Espinosa tornou-se um dos maiores nomes da literatura policial brasileira.
Há pouco mais de 1 ano, falecia o escritor carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza devido a um AVC, depois de passar um ano internado. Apaixonado pela economia e precisão encontrados nos escritos de Raymond Chandler e Dashiell Hammet, o escritor construiu, porém, um personagem completamente diferente de Philip Marlowe ou Sam Spade – Espinosa é um protagonista um tanto excêntrico, no sentido de que não está bem encaixado em lugar nenhum.
\”Ele não é o herói, não é como os personagens dos romances policiais da década de 1940, que eram, por exemplo, aventureiros por excelência. É um ser mais reflexivo, sem ser um intelectual e sobretudo sente um mal-estar na vida.\” — Luiz Alfredo Garcia-Roza
A inspiração para o nome, revelou o escritor, foi o pensador holandês Baruch Espinosa (1632-1677), uma das figuras mais nobres da filosofia e também uma das mais investigativas. Essa personalidade tortuosa permitiu que as histórias fossem construídas fora do riscado tradicional.
Abaixo, listo 5 obras que podem ajudar a conhecer melhor a ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza:
“O Silêncio da Chuva”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza
Prêmio Jabuti 1997 de Melhor Romance
Prêmio Nestlé de Literatura 1997
No centro do Rio de Janeiro, um executivo é encontrado morto com um tiro, sentado ao volante do seu carro. Além do tiro, único e definitivo, não há outros sinais de violência. É um morto de indiscutível compostura. Mas isso não ajuda: ninguém viu nada, ninguém ouviu nada.
O polícia encarregado do caso, inspetor Espinosa, costuma refletir sobre a vida (e a morte) a olhar para o mar, sentado num banco da praça Mauá. No momento, tem muito sobre o que refletir. Por um lado, um morto que surgiu num edifício-garagem; por outro, a incessante multiplicação de protagonistas do drama. Tudo se complica quando ocorre outro assassinato e pessoas começam a desaparecer.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes no Brasil:
“O Silêncio da Chuva”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza (eBook da edição de bolso, Companhia das Letras, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/sil%C3%AAncio-chuva-Luiz-Alfredo-Garcia-Roza-ebook/dp/B009XE2EFS
“Uma janela em Copacabana”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza
Copacabana, Rio de Janeiro. Dois polícias são executados num curto espaço de tempo. As suas mortes têm muito em comum. Ambas as vítimas eram agentes do segundo escalão, com carreiras medíocres. Foram eliminados pelo mesmo homem, um assassino que dispara à queima-roupa e não deixa rasto.
O mundo policial entra imediatamente em rebuliço. Quem estaria disposto a correr o risco de matar dois agentes, ainda que inexpressivos? Gente ligada ao tráfico? À própria polícia? Rodeado pelas confusões de seu cotidiano de livros sem estantes e mulheres fugidias, o delegado Espinosa tem poucos elementos para desvendar o caso, mas sabe que quem cometeu os crimes tem uma motivação forte. Se matar um agente não costuma nunca ser um bom negócio, alguém deve ter concluído que eliminar esses dois era uma questão de estrita necessidade – dos riscos, o menor.
Percorrendo as ruas de sua geografia predileta, entre os bairros do Leme e de Copacabana, o delegado vai deparar-se com outras mortes e com uma mulher enigmática e insinuante, casada com um figurão da área económica do governo federal.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes no Brasil:
“Uma janela em Copacabana”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/uma-janela-em-copacabana-3-ed-2010/artigo/36ac42cf-f740-4901-b16a-a41bf62b0811
“Berenice Procura”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza
Um menino de dois anos, filho de um diplomata, brinca na praia de Copacabana sob os olhos vigilantes da babá. Ele tem uma das mãos ocupada com uma pá, que carrega com orgulho, e a outra entretida em recolher objetos do chão. Quando avista um morrote de areia, resolve pôr o utensílio de plástico em ação e começa a cavar. Até que encontra um corpo.
Esse seria mais um caso para o inspetor Espinosa – se Luiz Alfredo Garcia-Roza não tivesse decidido dar um descanso ao personagem de seus cinco romances anteriores. No lugar dele, o autor apresenta Berenice, uma taxista de 34 anos, também carioca, que corre todas as manhãs para aguentar o tranco de mais de dez horas diárias de trabalho. Berenice mora com a mãe e o filho; seu ex-marido, Domingos, faz visitas regulares aos três. Mais regulares do que Berenice gostaria, aliás. Domingos é jornalista free-lancer. Colabora com alguns jornais, repassando notícias que recolhe em hospitais e delegacias. Graças a essas conexões, e numa tentativa de se reaproximar da ex-mulher, vira seu informante sobre o assassinato do travesti Valéria – enterrado nas areias de Copacabana e encontrado pelo pequeno estrangeiro com sua pá.
O ponto de Berenice fica bem próximo da cena do crime, e quando ela chega para trabalhar, naquela manhã quente de segunda-feira, fica sabendo do assassinato ocorrido na noite anterior. Pouco depois, durante a primeira corrida, a conversa com o passageiro gira em torno do crime – cena que se repetirá diversas vezes no táxi de Berenice, agora muito interessada no caso. Graças às informações recolhidas por Domingos, Berenice chega a Russo, um sem-teto que estava na praia no momento do assassinato. Russo passa as noites num túnel abandonado do metrô e conhece como ninguém as galerias subterrâneas do Rio de Janeiro.
Cansada de ser apenas uma \”caixa de ressonância da cidade\”, um vazio onde as vozes dos passageiros ecoam, trazendo opiniões que entram e saem sem deixar nada, Berenice se envolve emocionalmente com o caso de Valéria e passa a comportar-se como detetive. E é através dela que Garcia-Roza nos apresenta um submundo inóspito da Cidade Maravilhosa, povoado por habitantes de galerias de águas pluviais e esgotos, órfãos criados por travestis, e delinqüentes que vivem de furtar turistas.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes no Brasil:
“Berenice Procura”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/berenice-procura-1-ed-2005/artigo/30180844-ed8c-4d68-85c4-18a2b146c0ed
“Fantasma”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza
A mulher sentada à beira da calçada na avenida Nossa Senhora de Copacabana só se sente em casa vivendo na rua – estar entre paredes a oprime, ela tem a sensação de que vai morrer sufocada. É tão fina e educada que todos a chamam de Princesa. Seu lar é um trecho do piso de cimento delimitado por pedaços de papelão. Muito gorda, tem dificuldade para se mover. Mesmo assim, não descuida da aparência – alisa bem o vestido sobre as pernas esticadas, penteia-se com esmero e passa batom com pelo menos frequência – sempre que recebe a visita do delegado Espinosa. E o delegado Espinosa visita Princesa várias vezes por dia. Afinal, tudo indica que ela viu quem enfiou uma faca no homem muito branco, talvez um estrangeiro, que amanheceu morto na calçada a alguns metros dela. Mas Princesa costuma sonhar, às vezes até quando está acordada. Isaías é o grande amigo de Princesa.
Ele sabe que a amiga viu alguma coisa que não deve ser lembrada. Acredita que precisa proteger a qualquer custo a moça dos perigos que podem surgir da noite – quando ela dorme sozinha na calçada – e do dia, quando os passantes são tantos que é difícil distinguir o inimigo que se aproxima para desferir um golpe. Como Princesa, Isaías é incapaz de lidar com o mundo complicado onde os dois vivem; como ela, é indefeso e vulnerável.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes no Brasil:
“Fantasma”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/fantasma-1-ed-2012/artigo/17548427-6e28-47fe-b2a5-375d888ce9dd
“A última mulher”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza
O novo caso do delegado Espinosa envolve um jogo de gato e rato que conta com um cafetão bem-sucedido, sua nova prostituta favorita e outras figuras da Lapa profunda.
Ratto é um cafetão da Lapa, coração do Rio de Janeiro, que, acompanhado de seu sócio, Japa, consegue tirar uma pequena fortuna todo mês. Quando um violento policial resolve chantageá-lo, querendo abocanhar parte do quinhão, Ratto precisa desaparecer dali e arranjar um jeito de sobreviver. Refugiado em Copacabana, ele conhece Rita, uma prostituta jovem e muito inteligente que vira sua protegida, mas logo ambos se veem em meio a uma caçada pelas ruas e becos escuros da cidade.
O delegado Espinosa, que conhece Ratto dos seus tempos de inspetor da 1ª DP, no Centro, é forçado a entrar no caso quando começam a surgir mulheres mortas com requintes de crueldade. Auxiliado pelos inspetores Welber e Ramiro, Espinosa precisa entender quem é a mente por trás de crimes tão brutais para impedir que Rita seja a próxima vítima.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes no Brasil:
“A última mulher”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/a-ultima-mulher-1-ed-2019/artigo/4bab6b9d-2e16-4fb4-b958-73d5fd182dd4
Sobre o autor:
Nascido em 1936, antes de iniciar os escritos literários, dedicou-se a lecionar Teoria Psicanalítica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e publicou, nesse mesmo ramo, alguns livros sobre o assunto. Em 1996, Garcia-Roza iniciou a sua vida profissional como literato e publicou o primeiro livro de romance policial, intitulado “O Silêncio da Chuva”, obra vencedora do Prêmio Jabuti. O personagem criado para a obra, o detetive Espinosa, obteve tamanho sucesso que se tornou recorrente em quase todas as outras narrativas criadas pelo escritor, especialmente, nas duas publicações seguintes: “Achados e Perdidos” e “Vento Sudoeste”. Todas as obras do escritor foram publicadas pela Companhia das Letras, entre 1996 e 2019.
Foto: Luiz Alfredo Garcia-Roza por Bel Pedrosa/Divulgação
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Boas leituras!