#2 – Maria Firmina dos Reis e a quebra de patriarcalismo literário

Ainda é necessário tempo. Mais do que o tão almejado espaço, ainda é necessário tempo. Essencialmente, tempo para se ter uma noção do processo de criação. Tempo para se notar a ironia. Tempo para se derrubar o patriarcalismo literário que, aqui, se firma num mero reflexo social. Tempo para que se possa desconstruir o mandonismo exercido por séculos, cultivado como algo benéfico aos bons e velhos costumes.

“Mesquinho e humilde livro é este que lhe apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns, e o riso mofador de outros, e, ainda assim, dou-o ao lume.” – Maria Firmino do Reis

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Fonte: Penguin-Companhia

Aquilo que transcorria entre páginas, agora, tão finas como papiro, demorou anos para ser analisado, de verdade: A sutileza que a negra desempenhava em assumir o seu papel de subalterna e inferiorizada e, ao mesmo tempo, ironizar os princípios e as amarras do século, através da literatura.

Abre-se, a partir daí, um problema que se ramifica em centenas de artífices, como elos que se agarram e entrelaçam ao comportamento social de hoje. Ainda somos o reflexo de toda a inferioridade lançada sobre a literatura negra. Diria mesmo, sem qualquer dúvida, mais pressionada quando a literatura negra é feita por uma mulher, pois, ela deixa de ser agente de discurso e transforma-se numa agente de escrita.

Diante disto, derrube-se esta parede torpe que deturpa a visão, e que se abra um tempo de evolução. E se querem ter noção desse tempo perdido, essa evolução já bate à porta desde 1859, com a primeira obra lançada por uma mulher negra. No entanto, ainda é necessário tempo, mas entre o necessitar e ter tempo, há um abismo de infortúnios e atrasos.

Maria Firmina dos Reis é conhecida por ter uma escrita pioneira, de cunho abolicionista, que deu voz aos indivíduos escravizados, numa época de injustiça, desespero e ignorância. Nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, a 11 de Março de 1825. Foi contemporânea de Machado de Assis e “Úrsula”, publicada, originalmente, sob o pseudónimo de “Uma Maranhense”, é considerada como a sua obra-prima.

No que diz respeito à corrente literária na qual se insere, podemos afirmar, sem hesitar, que o seu estilo bebeu do Romantismo. É importante realçar, igualmente, que esta narrativa inaugurou a literatura afro-brasileira.

Curiosamente, o facto de a obra ter caído, muito recentemente, em domínio público, fez com que várias editoras quisessem publicá-la. Contudo, destaco a edição da Companhia das Letras, através da chancela Penguin Companhia.

O que acharam deste novo post? Escrevam nos comentários.

Foto: Maria Firmina dos Reis/Divulgação

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Sugestões de Leitura:
“Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis (Penguin-Companhia, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/3cc09879-e223-4d5b-8c63-38366…

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Boas leituras!

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