Neste 10º texto, Anna Beatriz Freitas vai trazer-nos algumas situações interessantes de serem analisadas e que envolvem o processo de tradução e como essas situações demonstram a profunidade de conhecimentos e dificuldades que um tradutor deve dominar minimamamente para que o ato de traduzir seja um processo cumprido com sucesso.
O processo tradutório, quando bem aproveitado, pode enriquecer-nos muito, não só em relação ao vocabulário, mas, principalmente, em relação ao nosso modo de pensar e agir diante de algumas situações.
Quando lemos um texto com a intenção de traduzi-lo, fazemos um exercício diferente do de apenas ler e interpretar e/ou imaginar. Quando lemos como tradutores observamos coisas que não estariam claras aos leitores “comuns”. Vamos falar de três situações: a primeira é sobre um estudante (A) que precisava de traduzir um texto jurídico, a segunda sobre um estudante (B) que estava a traduzir um texto económico e a terceira sobre uma estudante (C) que teve de traduzir um texto literário.
Vamos começar, então, a falar sobre a experiência de “A”. “A” tinha que escolher um trecho da Constituição da República Democrática do Congo para traduzir e, segundo ele, isso seria fácil, já que era um texto jurídico e a linguagem jurídica tende a ser mais “estrita”. No entanto, ao longo do processo de tradução, “A” viu que tinha subestimado o seu texto, dado que, apesar de possuir uma línguagem “estrita”, um texto jurídico deve estar muito bem formulado para que não existam ambiguidades.
Por incrível que pareça, uma das grandes dificuldades de “A” foi ter de trabalhar com uma palavra muito simples: “égal”, que em português seria “igual”. Contudo, se a palavra não fosse manejada corretamente, causaria sérios danos à tradução. “A” teve também que se aprofundar na história da República Democrática do Congo para poder entender o motivo de muitos artigos terem sido escritos como foram. Ao final do processo tradutório, “A”, que antes tinha subestimado o trabalho, viu que tinha cometido um erro ao pensar que, por ser um texto jurídico, ele se restringiria a estudar somente a linguagem jurídica. Apesar das dificuldades, ele teve a oportunidade de aprender muito sobre a história e a cultura congolesa.
Falemos, então, sobre “B”. Era início do semestre, “B” nunca tinha parado para prestar atenção em nada que envolvesse o assunto “técnico-científico” na sua vida, mas estava prestes a traduzir uma página web de uma empresa especializada em tecnologia da informação. Inicialmente, parecia ser uma tarefa simples, afinal, estamos em contacto com o meio digital a toda a hora, mas, vale à pena ressaltar que, além da linguagem técnica, deve levar-se em consideração a linguagem digital e, no caso do trabalho de “B”, até as cores e a disposição das informações tinham um objetivo. A conclusão foi que, além de ter que pesquisar sobre termos da tecnologia da informação, adicionalmente, “B” precisou de se aprofundar em linguagem digital. Hoje em dia, “B” está à procura de se especializar em tradução para o meio digital.
Por último, mas não menos importante, vamos falar sobre “C”. Essa estudante já estava a chegar ao final do curso de tradução, quando teve que traduzir um texto literário, mais precisamente, uma poesia. “C”. Ela estava muito animada com a proposta até começar o processo de tradução e notar que, além de traduzir, ela teria que tentar respeitar a métrica e o ritmo da poesia. Afinal, palavras que rimam numa língua não vão necessariamente rimar noutra, ou formar o mesmo sentido, ou até mesmo existir. Se por um lado, “C” teve que mergulhar nos estudos de sinónimos, expressões idiomáticas, construção de versos e, até mesmo, habtuar-se a recitar poesia em voz alta, por outro, teve que lidar com a frustração de perder algumas coisas do texto original, aprendeu a usar a imaginação para compensar aquilo que tinha perdido, de uma forma que não prejudicasse o que o poeta dizia. A poesia não tinha mais do que 7 versos, mas demorou quase dois meses para ter a sua tradução concluída. Uma curiosidade interessante é que “C” acabou por decorar várias expressões idiomáticas estrangeiras e as suas respectivas histórias.
Por fim, estas situações demonstram um pouco sobre como o processo de traduçãp pode ser muito enriquecedor, mesmo que seja difícil, e quantas histórias legais um tradutor pode ter para contar. As situações citadas, anteriormente, realmente aconteceram e foram contadas pelos próprios estudantes numa palestra sobre Línguas Estrangeiras e Tradução. Esses estudantes, agora, são profissionais formados. Futuramente, posso dividir algumas das minhas próprias experiências.
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Boas leituras!